Entendendo a Dependência Química
Como pais, enfrentar a dependência química de um filho é uma das experiências mais desafiadoras e angustiantes que podemos vivenciar. Este capítulo tem como objetivo fornecer uma compreensão clara e abrangente da dependência química, seus sinais, causas e impactos. Armados com este conhecimento, amigos e familiares estarão melhor preparados para ajudar seus filhos e navegar por esta jornada difícil, mas não impossível.
• O que é Dependência Química – Definição
A dependência química é uma doença crônica e complexa caracterizada pelo uso compulsivo e descontrolado de substâncias psicoativas, apesar das consequências negativas evidentes. É importante entender que não se trata apenas de uma fraqueza moral ou falta de força de vontade, mas sim de uma condição que afeta o cérebro e o comportamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a dependência química como um problema de saúde pública. Esta condição não se limita apenas às drogas ilícitas; inclui também o uso problemático de álcool, nicotina e até mesmo certos medicamentos prescritos.
• Características principais da dependência química incluem:
– Uso compulsivo de substância;
– Perda de controle sobre o uso;
– Continuação do uso apesar dos danos evidentes;
– Desenvolvimento de tolerância (necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito);
– Presença de sintomas de abstinência quando o uso é interrompido, como:
Ansiedade e irritabilidade: Sensações de preocupação constante, nervosismo e irritação são comuns.
Depressão: Sentimento de tristeza intensa e perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas.
Sudorese e tremores: O corpo pode reagir fisicamente com suor excessivo e tremores involuntários.
Náuseas e vômitos: Desconforto gastrointestinal também é uma manifestação comum.
Insônia: Dificuldades para adormecer ou manter o sono, levando à privação de sono.
Desejo intenso pelo uso da substância: Um forte impulso para retomar o uso da droga (fissura).
Estes sintomas podem variar em intensidade e duração dependendo da substância específica e do nível de dependência. Eles representam o corpo e a mente se ajustando à ausência da substância que historicamente tem sido consumida regularmente.
• Causas da Dependência Química.
A dependência química não tem uma causa única, mas, sim, resulta de uma interação complexa de vários fatores:
– Fatores Genéticos: Existe uma predisposição hereditária para o vício. Certas variações genéticas podem aumentar a vulnerabilidade de uma pessoa à dependência.
– Fatores Ambientais: O ambiente em que uma pessoa cresce e vive pode influenciar significativamente o risco de desenvolver dependência. Isso inclui: Exposição precoce a substâncias; Pressão dos pares (grupos sociais); Ambiente familiar instável ou abusivo; Traumas ou estresse crônico
– Fatores Psicológicos: Condições de saúde mental preexistentes podem aumentar o risco de dependência, como: Depressão; Ansiedade; Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
– Fatores Neurobiológicos: O uso repetido de substâncias pode alterar a química cerebral, particularmente os sistemas de recompensa, levando à dependência.
– Fatores Socioculturais: Normas culturais, disponibilidade de substâncias e atitudes sociais em relação ao uso de drogas podem influenciar o desenvolvimento da dependência.
• Sinais e Sintomas Detalhados
Reconhecer os sinais precoces da dependência química é crucial para uma intervenção eficaz. Os sintomas podem variar dependendo da substância usada, mas geralmente incluem:
– Alterações Físicas: Olhos vermelhos ou pupilas dilatadas/contraídas; Mudanças rápidas de peso; Tremores frequentes; Fala lenta ou alterada; Negligência com a aparência e higiene pessoal.
– Alterações Comportamentais:
– Desejo incontrolável de consumir a substância (fissura ou craving):
– Dificuldade em controlar o uso em termos de início, término e quantidade;
– Aumento da tolerância;
– Síndrome de abstinência quando o uso é interrompido;
– Abandono progressivo de atividades antes prazerosas;
– Isolamento social e distanciamento da família e amigos;
– Problemas no trabalho ou escola, incluindo queda de produtividade e faltas frequentes;
– Comportamentos de risco, como dirigir sob influência de substâncias;
– Gastos excessivos ou pedidos frequentes de dinheiro emprestado.
– Alterações Emocionais e Psicológicas:
– Mudanças bruscas de humor;
– Irritabilidade e agressividade;
– Ansiedade e paranoia;
– Depressão e perda de interesse em atividades antes prazerosas;
– Problemas de memória e concentração;
• O Impacto na Família
A dependência química não afeta apenas o indivíduo, mas toda a estrutura familiar. Listamos abaixo os 10 maiores problemas que que a família enfrentará se não souber como lidar com a situação:
1. Desestruturação familiar: A dependência química de um filho causa fragilização das relações e desestruturação dos laços afetivos entre os membros da família.
2. Problemas financeiros e econômicos: Gastos excessivos e prejuízos financeiros decorrentes do comportamento do dependente químico.
3. Violência física e psicológica: Aumento dos níveis de violência doméstica, incluindo agressões físicas e psicológicas.
4. Deterioração da comunicação: Dificuldade em estabelecer um diálogo aberto e livre de julgamentos com o filho dependente.
5. Isolamento social: Famílias tendem a se isolar devido ao estigma e preconceito associados à dependência química. Sentimentos de vergonha, culpa e impotência – Familiares normalmente se culpam ou sentem vergonha da situação.
6. Codependência: Familiares, especialmente os pais, podem desenvolver comportamentos codependentes, assumindo responsabilidades e controle excessivos pelos problemas do filho.
7. Adoecimento físico e psíquico: O estresse constante e a preocupação levam ao desgaste emocional e físico dos familiares.
8. Conflitos conjugais: A situação do filho dependente pode intensificar problemas no relacionamento entre os pais, inclusive, sem perceber, manter a dependência química.
9. Negligência de outros aspectos da vida familiar: A vida dos familiares passa a girar em torno do dependente, prejudicando outras áreas importantes.
10. Dificuldade em estabelecer limites: Os pais frequentemente enfrentam desafios para impor limites saudáveis ao filho dependente, muitas vezes cedendo a manipulações e chantagens emocionais e muitas vezes ocorre a inversão de papéis: Filhos podem assumir responsabilidades dos pais, desestruturando a dinâmica familiar.
• O Ciclo da Dependência
A dependência química frequentemente segue um padrão cíclico que pode ser dividido em três fases principais:
1. Primeira Fase (Experimentação):
– Uso social, geralmente em grupos;
– Início do aumento da tolerância;
– Associações ilusórias entre o uso da substância e melhor desempenho;
2. Segunda Fase (Uso Regular):
– Aumento significativo da tolerância;
– Surgimento de mecanismos de defesa como negação e minimização;
– Início dos problemas relacionados ao uso;
– Culpa e remorso, levando a um ciclo vicioso de uso;
3. Terceira Fase (Dependência Estabelecida):
– Necessidade constante da substância;
– Perda total de controle;
– Graves consequências físicas, psicológicas e sociais;
– Uso solitário e isolamento social.
Entender este ciclo é fundamental para reconhecer em que estágio seu filho pode estar e qual a melhor forma de intervir.
Texto extraído do Capítulo 1, do Livro “AMOR FIRME – Ajudando seu filho a vencer as drogas”, de autoria de Elton P Fonseca
Elton Pereira da Fonseca
Psicólogo
CRP 10/2418-Pa.
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